O processamento da mandioca tem se consolidado como uma estratégia promissora no agronegócio brasileiro. Além de gerar produtos de alto valor cultural e de mercado, como fécula, farinha e tucupi, sua cadeia produtiva apresenta forte demanda e um crescente apelo sustentável. Seja por meio de modificações químicas que ampliam suas aplicações industriais ou por inovações clean label, a mandioca e seus produtos podem ser reaproveitados de maneira eficiente e rentável.
Esse potencial se deve não apenas à possibilidade de diversificação de culturas, oferecendo uma alternativa viável a soja, milho e, em alguns casos, ao algodão, mas também à adoção do modelo de “circuito fechado“. Essa abordagem permite reduzir desperdícios, otimizar o uso de recursos e criar novas fontes de receita, promovendo um modelo produtivo mais sustentável e economicamente vantajoso.
O que é o conceito de circuito fechado na indústria da mandioca?
O conceito de circuito fechado refere-se a um sistema produtivo no qual os resíduos gerados em uma etapa do processamento são reaproveitados em outras atividades, aumentando a eficiência global e reduzindo desperdícios. Essa lógica se insere no modelo da economia circular, onde materiais que normalmente seriam descartados passam a ser reintegrados ao processo produtivo.
O termo “circuito fechado” é explicado no contexto industrial e ambiental por Frosch e Gallopoulos (1989) no artigo “Strategies for Manufacturing“, publicado na Scientific American. No artigo, é exposta a ideia de sistemas industriais que imitam ciclos naturais, onde os resíduos de um processo servem como insumos para outro. Pearce e Turner (1990) expandiram esse conceito para a economia circular, demonstrando como resíduos podem ser transformados em novos insumos produtivos, reduzindo impactos ambientais e maximizando o aproveitamento de recursos.
No caso do processamento da mandioca, a adoção do circuito fechado permite que subprodutos antes descartados sejam reaproveitados de forma estratégica, beneficiando tanto a economia quanto o meio ambiente.
Principais subprodutos da mandioca e suas aplicações
1. Casca da mandioca – Rica em fibras, pode ser utilizada na formulação de ração animal, reduzindo custos para pecuaristas e agregando valor ao que antes era um resíduo descartado.
2. Folhas da mandioca – Obtidas na poda, possuem alto teor proteico e podem ser transformadas em silagem para alimentação animal.
3. Manipueira – Líquido rico em amido e outros nutrientes, pode ser tratado para a geração de biogás, reduzindo a dependência de outros combustíveis na indústria. Após tratamento, também pode ser utilizado como biofertilizante na irrigação de pastagens. Além disso, seu processamento pode resultar na produção do tucupi.
4. Bagaço – Subproduto do processamento da fécula, amplamente empregado na formulação de ração para bovinos, suínos e aves, funcionando como uma fonte de nutrição de baixo custo.
Vantagens da adoção do circuito fechado
– Redução de custos operacionais – O aproveitamento máximo dos subprodutos minimiza despesas com descarte de resíduos e a necessidade de insumos externos.
– Sustentabilidade ambiental – A menor geração de resíduos e o reaproveitamento de água contribuem para um modelo de menor impacto ambiental.
– Aumento da rentabilidade – A conversão de resíduos em novos produtos cria novas fontes de receita para a indústria da mandioca, tornando o investimento mais lucrativo.
– Maior competitividade – Empresas que adotam práticas sustentáveis atraem consumidores e investidores preocupados com ESG melhorando sua posição no mercado.
A implementação do circuito fechado na indústria da mandioca representa uma grande oportunidade para empresários do setor. Além de garantir um modelo produtivo mais eficiente e sustentável, essa abordagem fortalece a competitividade e maximiza a lucratividade. Com um planejamento adequado, é possível transformar resíduos em recursos, promovendo um agronegócio mais inovador e economicamente viável.
Referências
FROSCH, R. A.; GALLOPOULOS, N. E. “Strategies for Manufacturing.” Scientific American, v. 261, n. 3, p. 144-152, 1989.
PEARCE, D.; TURNER, R. K. Economics of Natural Resources and the Environment. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1990.